sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dinheiro, Dinheiro !!!

Nao podia deixar de voltar ao tema BPN.
Cada dia que passa surgem novas noticias, o 24 horas com o seu discurso inflamado vai colocando o "dedo na ferida" aos poucos, e os outros jornais tambem nao ficam atras. Sobretudo agora, que parece nao ser assunto tabu falar-se das desgracas do BPN. Os jornalistas, aos poucos, vao perdendo o receio de contar os detalhes...

Quando se falou do BCP, os outros bancos ficaram serenos e calados.
Fala-se do BPN e BPP e os outros bancos continuam serenos e calados.
Quantos "podres" temos nos espalhados por estas instituicoes?

Em quem poderemos confiar as nossas poupancas no futuro? Alguem tem sugestoes?
Sera o dinheiro de facto uma tentacao irresistivel?

Para quem nunca o teve a frente em abundancia (o meu caso), e' facil dizer que a tentacao e' controlavel. Mas sera mesmo assim? Ate que ponto o nosso "espirito" de auditor consegue travar a tentacao?
Existem estudos que tentam definir o perfil do Empresario tipico, mas ainda nao encontrei estudos sobre o perfil do "ladrao de colarinho". Alguem sabe alguma coisa sobre este tema?

acr.

2 comentários:

RMB disse...

A propósito do tema BPN, deixo aqui a crónica do RAP na Visão:

"É impressão minha ou o caso BPN fica mais enternecedor a cada dia que passa? Tem sido comovente desde o início, mas estes últimos episódios foram mais emocionantes que o fim de Casablanca. À semelhança do que costuma acontecer nas histórias tristes, esta também tem um inválido, como o Tiny Tim, do Dickens. O caso BPN tem, aliás, vários inválidos, e curiosamente são todos ceguinhos: o Banco de Portugal não viu que havia falcatruas, os administradores do banco não repararam que o presidente praticava um tipo de gestão que a lei, ao que parece, proíbe…
E agora estamos no ponto em que entra em cena a injustiça: Oliveira e Costa foi acusado de burla agravada, falsificação de documentos, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Quem o acusa de enriquecimento ilícito só pode desconhecer o seu desarmante altruísmo. Segundo o Correio da Manhã, em Março deste ano, Oliveira e Costa divorciou-se da mulher com quem era casado havia 42 anos, e passou os bens para o nome da senhora. Muito embora o divórcio se tenha realizado por mútuo consentimento, não deixa de ser admirável que um homem premeie a mulher de forma tão generosa na hora da separação. Trata-se do rigoroso oposto do «golpe do baú»: o objectivo não é casar para ficar rico, é divorciar-se para enriquecer o cônjuge. Que um homem tão desprendido dos bens materiais seja acusado daqueles crimes é simplesmente revoltante.

E é em alturas como esta que damos por nós a pensar que, quando os homossexuais tentam fazer pouco da nobre instituição do matrimónio, reivindicando o direito a casar, esquecem que o casamento não é uma brincadeira, nem um contrato sem significado que possa ser alargado às pessoas do mesmo sexo. O casamento é uma união sagrada entre um homem e uma mulher que partilham um projecto de vida comum, e essa união persistirá eternamente a menos que a polícia queira engavetar um dos cônjuges ao fim de 42 anos e levar-lhe a massa que ele acumulou indevidamente. Os homossexuais que não queiram vir corromper o instituto com que o Estado premeia as pessoas que formam o núcleo essencial da sociedade. Era o que faltava, vir essa gente conspurcar uma coisa tão bonita.

Mais do que fazer história no plano jurídico, na medida em que, pela primeira vez, foi preso um banqueiro em Portugal, o caso BPN pode fazer história no plano social: além do casamento por interesse, aparentemente acaba de se instituir o divórcio por interesse. Casar com um homem rico é um sonho do passado.

A ambição moderna é divorciar-se de um banqueiro. Sendo menos aviltante, consegue ser mais lucrativo."

MPB disse...

Boas,

André, não sou capaz, por razões e limitações óbvias de traçar o perfil de um ladrão dessa espécie, ou outra.
No entanto, a situação BPN, parece-me uma situação transversal a todo o mundo alicerçado no capitalismo. No caso concreto, penso que não existe o ladrão português, islandês ou norte-americano, temos sim o megalómano, o insaciável financeiro que, a certa altura do percurso, se ofuscou pelo brilho dos seus avultados rendimentos perdendo qualquer discernimento ético sobre a forma de manter, perpetuar e multiplicar o valor dos mesmos. Em bom português, perdeu a vergonha!
Nunca a sociedade valorizou e respeitou tanto um financeiro como nas últimas décadas, tornou-se num modo de vida privilegiado, elogiado, invejado, a imagem do Capitalismo.
Quantos de nós não vieram para esta área profissional à espera de apanhar este comboio? De entrar no TGV que dinamiza a sociedade dos nossos tempos?
Fazer dinheiro sentado, convencendo outros a investir no que era e não era rentável, no que era e não era real, era demasiado fácil e apelativo, tornando-se quase irrecusável. Esta despenalização absoluta em que se viveu, confiando cegamente nestes novos ilustres génios profissionais da nossa sociedade acenando-nos com rendimentos fáceis, com oportunidades douradas, com acesso a quase tudo a um preço que nunca pareceu tão baixo e tão fácil de pagar, conduziu à edificação deste castelo de cartas alicerçado na soberba, no atropelamento de regras e cimentado pela vontade de todos os actores em ter mais e melhor negligenciando qualquer tipo de risco fosse ele justificável ou não.
Mérito para quem pintou uma sociedade alicerçada num modelo como o Capitalismo, demérito obvio de quem cegamente borrou a pintura. Qual a fronteira? Não sei, é difícil perceber quando é que o quadro já tinha traços a mais ou quando ainda precisava de mais alguns retoques para se tornar uma obra-prima.
Não o percebi eu (definitivamente!), não o percebeu o norte-americano ou o islandês, embora estes últimos pudessem e devessem suspeitar que algo com contornos semelhantes iria eclodir.
Nesta mescla como distinguir os Oliveira e Costa (ladrões assumidos), os Richard Fuld (ladrões encapotados) dos casos “correu mal, mas eu fiz por bem”?
Recorrer a auditores já vimos que não resulta, quero crer que “fomos” apenas inventados para dar mais credibilidade a todo este processo de degradação financeira e para que ele perdurasse o mais tempo que fosse possível, recheando no caminho mais algumas carteiras.

Beijos e abraços

MPB